Rogério Martins

São Paulo/SP
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Rogério Martins

Psicólogo com Especialização em Psicodrama e Recursos Humanos, Palestrante, Escritor e Professor Universitário. Um dos maiores especialistas em desenvolvimento de lideranças do país. Estudioso e profundo conhecedor de Programação Neuro Linguística (PNL), Neurociências, Andragogia e Método Socrático.


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Lições de liderança – nunca menospreze os outros
Quando o líder carismático atrapalha
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Quando o líder carismático atrapalha


Você que atualmente ocupa um cargo de liderança ou de subordinação certamente já teve ou tem um líder que influenciou sua carreira.  Alguém que inspirou sua trajetória profissional e fez você acreditar que líderes carismáticos é que melhor representam o ideal da liderança. Estou certo? Caso concorde comigo continue lendo este artigo que irei desmistificar alguns conceitos pré-concebidos sobre o tema. Caso não concorde com minhas primeiras colocações convido também a continuar a leitura para ver se tenho ou não razão. De qualquer forma quero sua atenção e reflexão sobre o tema, qualquer que seja sua experiência ou opinião a respeito.

Para entendermos o momento atual e contextualizar sobre a necessidade de novas lideranças – carismáticas ou não – transcrevo um trecho do excelente livro “O Espírito do Líder”, de Ken O’Donnell:

No atual contexto corporativo, estamos ocupados rejeitando tanto as ideias quanto a linguagem de hierarquias inflexíveis, relíquias de um passado mecanicista e taylorista que funcionaram em tempos mais estáveis e passivos. Procuramos outros modelos de administração que permitam àqueles que possuam características e habilidades naturais de liderança desenvolver-se espontaneamente. Ainda vivemos, entretanto, em um período de transição entre o velho e o novo paradigma, algo mais flexível e compatível com o caos da economia, da política e da sociedade do século 21.”

Vivemos um momento incrível, de grandes transformações, inclusive no papel das lideranças. Porém, vamos conceituar liderança e carisma para que possamos trabalhar em um pensamento convergente. De forma simplificada podemos definir liderança como o processo de exercer influência sobre um indivíduo ou um grupo nos esforços para a realização de um objetivo em determinada situação. Veja que esta definição engloba quatro pilares fundamentais onde a liderança se sustenta: poder (influência), pessoas, metas e circunstância. A liderança está diretamente relacionada a capacidade de exercer o poder sobre uma ou várias pessoas, e a influência é a forma mais legítima de expressão de poder, já que ela carrega a ideia do carisma. Quem tem carisma influencia os outros. Porém, vamos continuar analisando os outros dois pilares: metas e circunstâncias (ah, só para reforçar: não há liderança sem pessoas).

Toda liderança pressupõe objetivos, ou seja, onde se quer chegar ou o que se pretende alcançar. O verdadeiro líder é aquele que conduz as pessoas para um determinado fim. Por isso, o propósito é tão importante. Mesmo que este propósito seja, a grosso modo, visto como maligno, ainda assim é um propósito e seu líder conseguirá atrair diversas pessoas que compactuam deste. Um dos casos mais emblemáticos e sistematicamente lembrado é de Adolf Hitler, que conseguiu unir uma Alemanha falida em torno de uma ideia totalitária, mas muito bem vendida por sua eloquência e firmeza na condução destas ideais e, consequentemente, comprada por milhares de cidadãos inebriados pelo lema de uma supremacia ariana.

Assim chegamos ao último pilar que sustenta a liderança que é sua característica situacional. A liderança deve ser encarada como uma competência a ser aprimorada e utilizada em cada circunstância de forma diferente. O verdadeiro líder tem que ser como um camaleão que se adapta a cada situação, seja da equipe, do meio ou do mercado, entretanto, sem perder sua essência e seus valores fundamentais. Liderança é um exercício de flexibilidade, onde aquele que ocupa a posição de líder tem que estar preparado a todo momento para deixar outro ocupar seu lugar quando ele não tiver competência (momentânea ou definitiva) para gerir aquela situação. Parece simples e é, mas há muitas pessoas que na prática não conseguem agir assim, pois estão presas ao cargo, ao título, aos dogmas. O exercício para se libertar desta “prisão” é compreender que ninguém é líder o tempo todo. Que quando se compartilha a liderança a equipe se sente fortalecida. Ao mesmo tempo há que se ter cuidado, pois só se pode compartilhar algo quando os demais estão preparados para isso, mas isso já é assunto para outro artigo.

Enfim, vamos ao carisma. É bem verdade que já fui tratando do tema de forma subliminar. Em vários parágrafos anteriores fiz algumas citações que levam a pensar sobre carisma, porém sem expor diretamente o assunto. Então vamos a ele agora: podemos definir carisma como uma característica de comportamento relacionada a capacidade de encantar (fascinar) outras pessoas de forma espontânea. Carisma está relacionado a forma de pensar e agir e que faz com que os outros sintam simpatia e admiração pela pessoa carismática.

Diante do exposto, sobre liderança e carisma, é que lanço a questão: e quando o líder carismático atrapalha? É possível que você esteja pensando que isso é incoerente, afinal o líder carismático é aquele que tem a equipe em suas mãos. Pode até ser verdade, mas é aí que mora o perigo. O carisma do líder pode ofuscar outras pessoas brilhantes que compõem a equipe e isso gerar disputas internas, muitas vezes silenciosas e minar a moral do grupo. Um líder carismático é capaz de provocar inveja e/ou ciúmes na própria equipe e/ou em outras áreas de uma empresa, por exemplo. O líder carismático pode sentir-se envolvido em sua “magnitude” e deixar-se levar em devaneios rumo ao “estrelato”.

Ok, ok... são apenas suposições. Pode até ser tudo fruto de minha mente maquiavélica. Porém, é importante pensar a respeito, não é? Afinal, somos humanos, imperfeitos, dotados de vaidades e fraquezas que se não forem devidamente criticadas por nós mesmos, corremos o risco de agir conforme este cenário que apresentei. Ou será que é realmente tudo fruto de minha mente maquiavélica?

Para finalizar, deixo mais uma reflexão sobre o assunto: quando o líder começar a ser reconhecido pela equipe como alguém carismático, é o momento de reforçar seus escudos contra a arrogância e o sentimento de autossuficiência. É a hora de vestir a manta da humildade e da generosidade e lembrar que só alcançou este mérito por causa dos demais. Pense nisso!

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